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5 ANOS DE TRABALHO E 70 ANOS DE HISTÓRIA

Master Marine completa este mês cinco anos de atividades como fornecedora de navios, mas sua história invade décadas. Para celebrar este momento, fomos dar um passeio pelo passado com Eugênio Pierotti, seu diretor-presidente e também presidente da Soamar – Santos. Em entrevista à jornalista Sandra Perruci, ele conta sobre seus mais de 60 anos de atuação no segmento e a forte herança do trabalho do pai à frente da empresa MANSUETO PIEROTTI.


Em 1949, o senhor tinha cinco anos. Foi nessa época que o seu pai fundou a Mansueto, da qual a Master Marine é sucessora. O que a Mansueto fazia?

Meu pai fundou a Mansueto no fundo de uma empresa na rua João Pessoa, em Santos (SP), uma antiga loja de ferragens. Lá ele guardava peças e alimentos para fornecer aos navios. O nome fantasia era Fornecedora Santista de Navios, depois adotou o nome Mansueto Pierotti que era o que representava a empresa na inscrição estadual.
A primeira vez que entrei lá foi em 1957. Eu tinha 13 anos. Meu pai na época tinha umas etiquetas de papelão com emblema da empresa. Nas etiquetas tinha a descrição CâmaraConvés e Máquinas. Isso era para facilitar a identificação das caixas que iam a bordo dos navios com material e eu tinha que ficar cortando barbantes para fixar as etiquetas. Comecei a aprender a separar o material, a datilografar, e com 14 anos já tinha condições de entrar no porto, com uma credencial da alfândega. O cais trabalhava do armazém 25 até o saboó, onde os navios petroleiros atracavam. O forte mesmo dos navios era onde hoje fica a Codesp, dos armazéns 12, 13 até o saboó. Tinha um grande movimento e a gente via muita mercadoria pelo chão, até na parte externa do armazém. Eu comecei a ir a bordo porque não tinha problema em ser menor naquele tempo. Eu ia com os funcionários do meu pai como aprendiz, carregava material e fazia um pouco de tudo. Com 16 anos já tinha mais autonomia, representava a empresa e comecei a aprender muito com navios argentinos e uruguaios. Eram companhias que meu pai tinha conseguido sozinho o serviço. Eu era um garoto meio expansivo na área comercial e me dava bem com o pessoal a bordo. Levava mercadorias, principalmente frutas, e aprendi a entender bem o espanhol.

A partir daí o senhor cresceu junto com a empresa? 

Quando você é dono do negócio, mesmo contando com a ajuda de seus colaboradores, começa a enxergar de uma maneira diferente e busca sempre projetar a sua empresa. Geralmente não se preocupa com o horário de sono, de almoço, o seu descanso, porque está em busca de um aprimoramento. Minha vida nesta área sempre foi assim, de muito envolvimento e pouco tempo. E meu pai também delegava muitos poderes para que pudesse decidir. Eu lembro que, quando eu era jovem, meu pai começou a se dedicar a entidades de servir na cidade de Santos. E muitas vezes era absorvido demais por elas. Como eu estava aprendendo, comecei a tentar suprir as dificuldades que ele tinha na parte operacional. De aprendiz passei a ser encarregado e isso fez com que assumisse novos desafios, até dirigir caminhão. Até hoje faço isso. Mesmo tomando bronca dos filhos, já peguei o caminhão em algumas situações para atender navio em São Sebastião, onde está nossa filial.

Dá pra perceber que o senhor se emociona com essas memórias. O que o trabalho na Mansueto contribuiu para a construção de valores e para a formação do ser humano Eugênio?

Meu pai teve muita dificuldade financeira para se fixar no setor e isso se tornou um desafio para mim: eu tinha que ajudar o meu pai. Mesmo sendo muito jovem, comecei a ir em bancos e fui pessoalmente negociar com algumas empresas que vendiam pra nós e queriam se transformar em concorrentes. Eu lidava com a contabilidade, aprendia a burocracia da empresa e essas experiências foram me dando uma grande visão do negócio. Isso ajudou muito no meu amadurecimento porque a vida vai te colocando desafios e você tem que assumir. Eu sempre fui um péssimo aluno na escola. Repeti três vezes. Estudava sempre na véspera de prova e rezava pra passar. Mas no momento em que comecei a trabalhar com meu pai, mesmo na parte operacional, eu sempre apliquei a minha força no sentido de aprender o trabalho e a estudar o meu cliente, saber tudo sobre a companhia, quem é o comandante, chefe de máquinas, representante na cidade. E quando eu subia a bordo, e conversava um pouco, eles percebiam que eu conhecia de fato as pessoas e a empresa na qual trabalhavam.

E de onde veio o amor pela Marinha?

Em 1972 foi fundada a Sociedade Amigos da Marinha – a Soamar e meu pai acabou se aproximando da entidade que, inclusive, tempos depois, presidiu aqui em Santos. Como fazia em tudo, meu pai procurou aproximar também os filhos e assim comecei a participar de eventos que se tornaram cada vez mais frequentes e a ter contato com muitos oficiais da Marinha. Hoje estou presidente da Soamar-Santos. Já são 37 anos de atividades.
Trabalhando com navios você tem contato com muita gente, em especial com a tripulação. As amizades surgem. Os navios chegam e você está lá. Partem e quando retornam você está lá de novo. Muitas vezes a tripulação fica meses longe do convívio familiar e é você que acaba ouvindo histórias, compartilhando a vida.

Isso é mais forte na Marinha Mercante…

É sim. Eu penso que estes profissionais que atuam na Marinha Mercante sofrem uma carência grande porque estão mais longe da família. Hoje mudou muito a dinâmica, mas antigamente as viagens eram longas e não tinha comunicação como atualmente. Não havia celular, whatsapp, internet. Os oficiais nem sempre conseguiam ir à terra com facilidade. As pessoas que viam eram o pessoal da alfândega, da saúde do porto, da agência e, no meu caso, da fornecedora de navios. Então, tinham contato com poucas pessoas. E era você quem ouvia as histórias do temporal que pegaram no mar, do filho que nasceu e ainda não viu, do pai que faleceu e não pôde ir se despedir. Eu cheguei a chorar algumas vezes a bordo.

Sua vida toda foi marcada por este segmento, mas hoje o senhor está vendo a nova geração assumindo os negócios, tendo passado também pelo período de grande aprendizado. Qual a mensagem que fica?

É muito bom ver os filhos assumindo o trabalho da gente. Temos hoje novos desafios e enfrentamos mudanças, mas eu acredito que é sempre importante olhar para as experiências do passado. Ajuda na tomada de decisões. As velhas lições continuam valendo. Poucos sabem, mas a Master Marine nasceu há mais de 40 anos como parceira da própria Mansueto Pierotti. Foi inspirada no meu pai e o nome é uma homenagem aos amigos que conquistamos neste segmento. Ela foi criada em 1965 e desde 2013, quando a Mansueto deixou de existir, assumiu toda a prestação de serviço como fornecedora de navios. Por isso, completamos cinco anos de atividade, mas nossa história ultrapassa décadas.

E já é uma empresa premiada…

Essa coisa de premiação veio em 2015, quando recebemos da ISSA o troféu Longevity Award. A ISSA é uma associação internacional que representa aproximadamente 2.000 fornecedores de navios em todo o mundo. Há três anos ela celebrou o seu Jubileu de Diamante e um grande evento em Cingapura. Estivemos entre grandes empresas com mais de 25 anos que se destacam no segmento. Meus filhos Flávio e Fernanda foram lá receber o troféu que é um orgulho para nós.

fonte: Ascom – Master Marine